Banco central do Brasil surpreende e corta taxa básica para 12%


Com a piora na crise internacional, instituição viu-se pressionada e reduziu a Selic de 12,50% para 12% ao ano
Brasília. O Banco Central surpreendeu a maior parte do mercado financeiro, e até mesmo do governo, e anunciou ontem a redução da taxa básica de juros de 12,50% para 12% ao ano. Desde a piora na crise internacional, e diante de indicadores de desaceleração na atividade doméstica, a instituição vinha sendo pressionada a cortar os juros. Na última terça-feira, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o aumento de R$ 10 bilhões na economia para pagar os juros da dívida (superavit primário) anunciado no início desta semana abriu caminho para a queda dos juros, que já estava no "horizonte".

A expectativa, no entanto, era que os juros só começassem a cair na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, nos dias 18 e 19 de outubro. Será a penúltima reunião do comitê neste ano. A última está marcada para o final de novembro.

Desde janeiro, quando os juros estavam em 10,75% ao ano, foram cinco aumentos. O último na reunião de julho.

Inflação
Apesar da expectativa de crescimento menor da economia, preocupações com a inflação levaram o mercado a avaliar que o BC não cortaria a taxa agora. O índice oficial de preços (IPCA) acumula hoje alta de 6,9% e precisa cair para 4,5% até 2012.

O BC já desistiu de trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% neste ano, mas mantém o compromisso de atingir esse resultado no final do próximo. As previsões da instituição e do mercado financeiro apontam para uma inflação maior. Indicadores de atividade já mostram desaceleração forte na indústria. O setor de serviços, o crédito e o emprego, no entanto, registram forte crescimento, embora menor que no início do ano.

Influência na economia
A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo BC para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e consome mais. Este aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender um consumo maior.

Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento - que ficam mais custosos -, a economia desacelera e evita-se que os preços subam - ou seja, que ocorra inflação. Com a redução da Selic, o BC também diminui a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, começa a "sobrar" um pouco mais de dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo. Se a taxa sobe, ocorre o inverso. É por isso que os empresários pedem corte nas taxas, para viabilizar investimentos, ainda mais em tempos de crise, como agora.

Nos mercados, reduções dos juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa. Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida suga como um ralo o dinheiro que serviria para o setor produtivo.

Juros5 Altas consecutivas ocorreram na taxa básica, a Selic, desde janeiro, quando os juros estavam em 10,75% ao ano

PARA MANTER RITMO
Queda é insuficiente, criticam entidades
Para a Fiesp, o BC deveria se preocupar mais com o crescimento econômico. Força Sindical esperava maisSão Paulo/Fortaleza. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria) elogiaram a decisão do Banco Central de reduzir a taxa básica de juros de 12,5% para 12% ao ano. As entidades, porém, afirmam que a medida ainda é insuficiente para conter os efeitos da crise internacional.

Para João Guilherme Ometto, presidente em exercício da Fiesp, o BC deveria se preocupar mais com o crescimento econômico e com o emprego. "Só uma forte redução de juros pode fazer com que o País mantenha o ritmo de crescimento, sem comprometer o controle dos preços", afirmou ele.

O deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), classificou como "extremamente tímida e insuficiente" a decisão do BC. "O Banco Central acertou no remédio, mas errou na dose. Com a medida o governo aplica um antídoto contra o crescimento econômico", disse ele em nota divulgada ontem.

A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) comemora a decisão do Copom, num momento em que todos os sinais já apontam para um esfriamento da demanda interna, e avalia que a posição enérgica do Banco na condução da política monetária sinaliza uma horizonte melhor ao crescimento econômico do País.

RANKING
Ouro mantém liderança nas aplicações; dólar sobe

São Paulo.
 Dólar com valorização de 2,64%. Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) com queda de 3,96%. Os dois resultados são relativos ao mês de agosto e mostram como o cenário externo turbulento afetou os investimentos no Brasil. De um lado, o dólar encerra agosto com o seu melhor porcentual de valorização mensal desde maio de 2010, quando a moeda subiu 4,48%. Do outro, as ações, se consolidam como o pior investimento do mês. No ano, a Bovespa também assume a lanterna do ranking, com queda de 18,48%. O dólar, desde janeiro, registra desempenho negativo de 4,21%.

Os fatores que colaboraram para o ranking de agosto são: o aumento do teto da dívida americana e o consequente rebaixamento do rating de crédito dos EUA; as preocupações sobre a capacidade de pagamento das dívidas da Itália e Espanha e o contágio de outros países da Europa.

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