Rio de Janeiro em luto e protesto no aniversário de 115 anos de bonde


Nesta quinta-feira, aniversário de 115 anos do bonde de Santa Teresa, familiares do motorneiro Nelson Correa, morto no acidente de sábado, e moradores estarão vestidos de preto a partir das 9h na Estação dos Bondinhos na Carioca. A manifestação, organizada pela associação de moradores do bairro (Amast), é protesto contra a situação do transporte no bairro.
Também será oportunidade para parentes de Nelson Correa fazerem justiça à memória do motorneiro, conhecido em Santa Teresa como 'Tartaruga', tal o cuidado que tomava para evitar acidentes. "Não queremos dinheiro. Ficamos chateados com as declarações denegrindo a conduta dele. Ele é um herói, trabalhava no bonde por prazer e sempre era extremamente responsável com os bondes", disse Nelson Júnior, filho do motorneiro. O secretário Lopes criticou o fato de o bonde ter circulado com passageiros após colidir com ônibus pouco antes da tragédia.
Segundo Nelson, pessoas do mundo todo têm enviado manifestações de carinho: "Recebemos mensagens até de outros países". Nelson contou que o pai fazia curso de inglês para poder conversar com os estrangeiros.
Na quarta-feira, representantes da Amast se reuniram com a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Margarida Pressburger, que colocou a Ordem à disposição para ajudar vítimas do acidente e afirmou que acionará a Defensoria Pública.
Governador admite a precariedade
O governador Sérgio Cabral admitiu nesta quarta-feira a precariedade dos bondes de Santa Teresa: "A verdade é que a frota do bondinho hoje é muito sucateada e não há controle de passageiros". Foi a primeira vez que ele se manifestou sobre a tragédia que matou 5 e feriu 57, sábado à tarde. Rogério Onofre, presidente do Detro nomeado interventor nesse sistema de transporte, visitou as oficinas, classificou-as de "esculhambação" e seus funcionários, de "heróis" por trabalharem em condições tão precárias.
"Foram R$ 14 milhões de investimento para recuperar bondes e trilhos. Não é possível que em uma instituição com quase 160 funcionários e poucos bondes tenha ocorrido uma situação como esta. O problema ali me parece maior, de gerência", afirmou Cabral, que está há cinco anos no governo, assim como o secretário de Transportes, Júlio Lopes. O governador citou o modelo de Lisboa, fechado e com apenas uma entrada e saída, como um veículo mais seguro.
Onofre e 15 funcionários do Detro formam a força-tarefa dos trilhos. Mecânicos revelaram a ele que sempre trabalharam com quantidade insuficiente de peças. O interventor ainda não definiu prazo para a volta dos bondes, mas afirmou que será o mais rápido possível. Ele garantiu que os bondes "não vão mais funcionar de qualquer maneira".
Segundo Onofre, o aspecto da oficina de manutenção é de "abandono". Ele destacou a experiência dos mecânicos, alguns com 45 anos de serviço, e pensa em aproveitá-los em uma oficina-escola para renovação da mão de obra.
Novos modelo de veículo e sistema de embarque
O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Inepac) informou que em 28 de julho, após queda e morte de turista francês, foi discutida com o estado a ideia de serem aplicadas grades laterais dos bondes, o que levaria a novo sistema de embarque. Também seriam implantados estribos retráteis, que impediriam que passageiros viajassem pendurados.
Desde então, o órgão aguarda o projeto da Secretaria Estadual de Transporte para autorizar a intervenção. Procurada, a secretaria não se pronunciou até o fechamento desta edição.
Cabral afirmou que possível solução para controlar a quantidade de usuários nos bondes é adaptar os veículos para o modelo usado em Portugal, fechado e com 2 portas. Mas ressaltou que as autoridades patrimoniais são contra alterações. O Inepac, no entanto, garantiu não haver resistência à modernização.
Interventor do sistema, Onofre acenou com a possibilidade de reativar e reestruturar o ramal e a estação de Silvestre, que seria integrada ao Corcovado. Segundo ele, são necessários R$ 800 mil para tirar o projeto do papel: "Temos dinheiro em caixa. Se for preciso investir até R$ 30 milhões, vamos investir".
"Vi pernas sendo arrastadas no asfalto
Era a segunda vez que o estudante André Neves, de 18 anos, faria o passeio de bonde. Mas, logo na subida, ainda no estribo, André percebeu a velocidade acima do normal. "Estava indo muito rápido, até que o bonde parou e o mesmo senhor que me cobrou os R$ 0,60 da passagem, subiu no teto do bonde e recolocou um cabo, que havia se soltado", lembra.
O estudante conta ainda que, a partir daí, o bonde voltou à velocidade normal por apenas alguns minutos. "Depois de algumas curvas, o bonde voltou a acelerar e alguns passageiros saltaram, até que ele tombou, bateu no poste e a tragédia se formou na nossa frente. Vi pernas sendo arrastadas no asfalto e gente tentando segurar a orelha no lugar", completa.
Na 7ª DP (Santa teresa), André e mais 5 vítimas foram ouvidas até a noite de ontem. Também ontem, o menino João Pedro Parisi Compri, 3 anos, teve alta.

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